domingo, 18 de julho de 2021

Prédios tortos

Tocar os dedos dos pés no chão, todo dia de manhã, me remete a estar deixando de flutuar.

Nessa altura eu acredito que todo mundo me ouviu rachar

Tive o suficiente para deixar de sentir o gosto de certas palavras,

e banalizando situações que nunca quis passar. 

Questionar é meu primeiro instinto, o segundo é calar

Os prédios tortos enquanto caminho demonstram tanta sobriedade quando não estou sóbrio.

Minhas mãos tortas não seguram mais minhas pernas.

Hoje eu li frases que me deixaram incerto,
quem sou eu nessa confusão?

E estou na rua, acenando para aqueles que passam por mim, sóbrios.

Esperando que você me leve para casa, de novo.


segunda-feira, 8 de março de 2021

Ruas

O completo silêncio que me deixa zonzo,

mas também parece um convite para dançar.

As luzes na noite que vem e vão,

Como momentos e instantes, 

me lembram festa, então eu danço.

Danço ao redor dos quadros, ao redor de mim,

Saio na rua e bebo com você.

As nossas mãos se procuram,

feitas para dançar uma valsa aos nossos tropeços.

Mais tarde, eu vou embora, chamo meu elevador

mas um carro passa roubando meu sono.

Eu perco as chaves e então deito no chão.

No outro dia, acordo com você me chutando e então parte, desaparecendo na multidão.

A chave agora está na minha mão, eu abro a porta e de repente voltei para o passado.

Eu treino, como todos fazem, para ser o melhor,

Acabo indo para o banco de reservas,

esperando pela oportunidade de ser chamado.

Mas no onibus de volta para casa, eu não pude me despedir do meu time.

Eu cresço de novo e já não sei o que fazer com as minhas mãos.

Então continuo andando pelas ruas silenciosas.

O passo dos meus pés ecoando pela rua como se fosse uma percussão

Meus dedos agora se entrelaçam, me guiando através do escuro

Mesmo eu sendo tão barulhento, ninguém acorda, é só eu e a rua, esperando pela dança.

Matheus Longaray 





domingo, 31 de janeiro de 2021

Digo,

As casas no fundo da foto
não são mais tão azuis,
eventualmente tudo muda,
tudo se deixa de lado.

Agora eu corro e sumo do enquadramento,
Dormindo no calor do momento.
Me pergunto se sou rápido demais
ou lento demais.
Mesmo que agora as paredes sejam brancas,
A cor anterior tenta emergir.
Por que presto atenção nessas coisas?
Por que te deixei ir?

Colocar alguns objetos na varanda de casa,
esperando que, de alguma forma, o sol
da manhã queime tudo.
Quando digo beijar, digo deixar para trás.

Não sei dizer o que tece a conexão
das minhas memórias,
mas elas estão sempre lá.
Aquele pequeno ponto aberto
na toalha da mesa,
eu sempre lembro.
Mas quando digo esquecer,
digo deixar para trás.

Matheus Longaray









 

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Chuva de fevereiro

hoje eu acordei cedo,
abri um olho de cada vez,
como se tivesse tomando coragem.

Eu não mais me sinto firme,
eu sei que parte disso veio
com a necessidade de ser adulto.
Mesmo quando envelhecer 
significa abandonar. 

Ver o meu redor é deprimente e lindo,
eu vejo a luz me acertar de longe,
me dando bom dia. 

Na maioria das vezes estou nervoso,
mesmo estando calmo, chuva de fevereiro. 
Nesses dias eu finjo não existir.
Finjo não concordar com você,
finjo não sentir a falta de você

Sentir o que eu sinto,
é brincar com cores diferentes,
pintando a parede de branco no fim do dia. 
Brincar comigo é brincar sozinho,
Percebe quando a luz te acerta também?
Minha lembrança quase apagada na tua mão

Separei um número bom de
coisas para entender,
muito do que conheço vem
de lembranças ou momentos,
eu me perdoo por isso.

Eu vou me perdoar apesar de tudo,
eu vou perdoar quem eu era,
eu vou perdoar quem eu sou
eu vou finalmente exalar
e talvez no futuro eu não precise dizer desculpas. 

Matheus Longaray

sábado, 2 de maio de 2020

O coração bêbado

O coração bêbado procurando briga pela noite
agindo com a coragem que nunca teve
o coração bêbado criando poesias na mesa de um bar
na porta do banheiro, no canto do espelho

O coração bêbado extrapola, faz birra, chora
totalmente fora de si, fora de controle
perdeu a noção do espaço, quer atenção
canta para todo mundo ouvir
Já não vê mais motivos para voltar pra casa
quer mais diversão, quer mais emoção

O coração bêbado quer razão
vai discutir porque se diz experiente
mas no entanto ele é amargurado
pois nunca soube contornar toda vez que foi quebrado
o coração bêbado não sabe viver
o coração bêbado procura notoriedade
pois só sabe viver da vaidade

Pobre coração bêbado.

Matheus Longaray

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Festa

Todos já foram dormir, eu continuo na sala,
sinto que eu deveria ter feito algo,
Ao menos, durante esses anos.
Para o que sou, apenas faço o meu melhor,
Ainda fico para trás em muitas coisas.

Ficar acordado, vagando pela casa,
Como um espírito ou algo do tipo,
Me deixa incomodado.

As bebidas no chão, a sujeira que ficou,
Assim como eu fiquei.
O sofá é meu e todos já se divertiram,
Ainda escuto a música tocar no fundo.
Não faz sentido.

Eu penso que deveria ser diferente,
O relógio inverter e novamente eu ter espaço
Entre teus braços.
Mas sou outra coisa, o número impar para a equação.

Pertencer aos quadros em festas solitárias,
Dançar em volta da minha própria sombra,
Porquê talvez as taças devem permanecer vazias, enquanto garrafas são enchidas.

E ouvir aquela pequena frase no fundo da mente:
E tudo que amei, eu amei sozinho.
Enquanto caminho em direção a porta.

Matheus Longaray

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Neomorto

Empurrei o barco até atravessar o rio,
O toque seco da vida me afundou
olhando pra cima,
Mantendo a pose.

Esqueci as horas no banco do carro
Agora perdi meu tempo, o momento.
Chuto as coisas velhas da cidade,
Que um dia pertenceram a mim.
Eu sei que não importa muito
É assim que tem que ser.

Corre pelo meu corpo,
É hereditário,
Como uma doença ou mancha,
Um pensamento distorcido,
Um redemoínho só,
Me assombra mais que teus olhos.

Eu esqueço o que dizer e só digo
"Não faça isso"
Esperando que nada aconteça,
Esperando que o nada seja como antes.

Eu não quero me esquecer,
Não quero ser esquecido,
Eu quero ser invisível.
Quero cortar a cena no primeiro ato
Pro drama acontecer logo,
E fechar a cortina.

Meu fado;
Entender mais do que ser entendido.
Ressucitar mais do que morrer.
A velha memória me esquece,
Me diz quem é.

Matheus Longaray