terça-feira, 24 de janeiro de 2012

telefonema da manhã




tudo bem, acordei e começo a procurar na minha camisa o maço de cigarro
- oh, droga... já foram todos, tudo bem, eu faço um café
e acho que acordei inspirado vou escrever algo, mas o que?
acho que irei escrever sobre catástrofes ambientais...
nããão, viriam aqueles ateus comentando "cadê seu Deus agora?"
se escrever sobre meu lado espiritual, viriam aqueles crentes dizendo que "Jesus é a salvação"
ah, certo, durante a tarde eu penso...

Irei ligar o radio já que essa hora não tem nada de bom na TV - pra falar a verdade, nunca tem -
- que merda de radio, nunca tem musicas boas
ta certo, vou ver meu celular e OPA, tenho chamadas perdidas
- Ane? por que ela me ligaria depois da ultima conversa?
ligarei de volta, quero saber o que está acontecendo
- créditos insuficientes, já deveria saber, merda de dia

Acho que vou dar uma caminhada pra ver um pouco de rostos diferentes
- ah,chuva?, com essa gripe não irei sair
Meu Deus, que bagunça vou arrumar esse apartamento
- olha só, encontrei uma foto de Ane aqui (risos)
ela sempre foi espontânea comigo, por que essas caretas? (risos)
vou continuar arrumando e vamos ver o que eu acho
- pétalas de rosas de quando eu dei uma flor para Ane
Ane, Ane, onde diabos você está e não aqui
mas olhe, a primeira carta que recebi de Ane, quando tínhamos 14 anos
É Ane, você marcou minha vida
Você sempre foi organizada, não deve ter nada meu na sua casa
nem mesmo minhas camisas flaneis
Mas por que você me ligou? não fez sentido, como ela mesmo dizia "você nunca vai entender isso"
tem coisas que eu não entendo mesmo
se eu entendesse, não estaria sozinho aqui nesse apartamento
- meu celular está tocando
vou correndo até lá, era Ane
- Ane? como você está?
- só queria escutar só sua voz essa semana. diz Ane
- você nunca mais foi para a biblioteca, o que aconteceu?
- "precisei de um tempo sozinha pra esquecer o que eu não tinha" diz Ane
- Ane, você nunca me teve, mas fomos feitos um pro outro e quando estamos longe tudo é cinza e nada é seguro e ano após ano nós estamos nôs esquecendo do que vivemos, vivendo no mesmo chão.


Matheus Longaray