
Em meio a correrias, papeladas, problemas, cafés e xingamentos ouve se o telefone tocar naquele fim de tarde que passara como vento por todos lá dentro.
Nada realmente pareceria estar errado até o momento de atender.
- Delegacia de policia, aqui quem fala é a delegada boa noite!?
então uma voz um pouco grave responde do outro lado
- Gostaria de denunciar um suicídio
Alguns segundos em silencio até a resposta
- Você está no local?
- sim, estou - A voz grave responde nua e crua
- poderia me informar o endereço?
- De que adiantará? Vocês não vão poder mudar os fatos...
- Me desculpe, mas não estou entendendo.
- Eu estou no local com o corpo, ligando para vocês, mas certamente vocês não vão poder mudar o que vai acontecer, certo?
- O que vai acontecer?
E a voz responde num tom mais sombrio
- Estou denunciando o meu suicídio
- Senhor, tenha calma, você toma algum tipo de medicação?
- Estou no meu perfeito estado, aliás, nem tão perfeito.
- Porque o senhor deseja fazer tal ato?
E a voz cada vez mais consilhadora responde.
- Quantas vezes tu já esqueceste um brinquedo ou presente num banco de metro ou ónibus na sua época de meninice?
- Confesso que algumas vezes - responde a delegada
Pois bem, me sinto como se fosse o brinquedo, um dia eu tive uso, e agora, estou esquecido no banco de trás
- Façamos assim, quem sabe o senhor vem aqui na delegacia para que possamos conversar melhor?
- Não me venhas com psicologia de cursinho, apenas remediarão o que sinto, a senhorita sabe, existem sentimentos que não podem serem salvos, tem coisas que não vencemos por mais preparados que estejamos, isso não está escrito nos livros do seu curso.
A jovem delegada sente um arrepio em volta do pescoço, pois não saberia o que responder.
Depois de algum tempo em silencio, a voz volta a falar
- Eu sou vítima também! do meu próprio orgulho em não chorar, em não saber lidar com esses sentimentos.
E antes que pudesse pensar em responder, ouve se um estouro e um silencio inquietante.
Foi mais um dia, porém, um dia diferente, esse dia que não se pode vencer todas. Logo na manhã seguinte, na capa do jornal estava uma nota escrita:
"Palhaço do circo que estava na cidade, famoso por divertir multidões, comete suicídio na noite desta quarta-feira (04/10), mais sobre na página 46.
Matheus Longaray